domingo, 6 de setembro de 2009

APENAS UM POUCO DE SAUDADE


"O tempo não pára! Só a SAUDADE é que faz as coisas pararem no tempo..."
(Mário Quintana)

Ah! Com que pressa tudo passa, e passando assim tão de pressa, mal dá tempo de sentir o sabor das coisas e o cheiro delas, e já se tornam apenas um pouco de SAUDADE.

Ah! Não há como deter esse momento porque ele não te espera para saboreá-lo ternamente, vagarosamente, preguiçosamente e com aquele prazer que tínhamos quando achava-mos sermos donos do próprio tempo. Então ele se torna também, apenas um pouco mais de SAUDADE.

As recordações são suaves, breves mais generosas ao ponto de parecerem vivas. É somente uns poucos instantes em que pensamos poder aprisionar o tempo para matar uma pequena SAUDADE. Sim, porque para matar uma grande SAUDADE, não há mais nenhum tempo. Porque o tempo não pára e a vida é contínua, e por isso, continua com muita pressa e depressa deixa as recordações na poeira fina e etérea do passado.

Nessa tentativa de reter o momento invocamos nas lembranças as emoções, as sensações, os odores e sabores tão queridos, como fosse assim possível, trazer de volta à memória, tudo aquilo que nos pudesse resgatar a esperança que havia em nossas almas.

Um sorriso que se perdeu na insensatez das promessas juvenis ou uma carícia que jamais se concretizou, são lembranças tristes agora. São apenas um pouco de SAUDADE que merecem o esquecimento, pois nos gera dor, e dor é melancolia, e melancolia é dor. E nem dor nem melancolia merecem SAUDADE.

Uma perda querida, um pai, uma mãe, um filho, um amor tem que virar lembrança doce um dia, para não cristalizar a dor. A dor cristalizada é como um altar erguido para celebrar a tristeza e perpetuar a melancolia. Ela escraviza a mente no tempo e anula as chances de se ser feliz outra vez, ou alguma vez.

Um pouco de SAUDADE apenas, é bom. Apenas um pouco de SAUDADE restaura nossa identidade e nos resgata os sonhos que não devíamos esquecer.

Ah! Um dia que choramos de alegria, e de alegria também quase desfalecemos de risos. Boas lembranças da época da despreocupação natural da adolescência. Se lembra?

Aquela primeira voltinha na bicicleta emprestada,
Nosso primeiro diploma,
O primeiro campeonato que ganhamos,
A primeira vez que os olhares se cruzaram, e neles descobrimos o amor.
E o primeiro beijo "roubado" então?

Ah! Apenas um pouco de SAUDADE da "aurora da nossas vidas" como diria algum poeta mais inspirado.

Ah! Houve tempos difíceis também, é claro. Houve outros tantos que pareciam não passar nunca.

Mas esses não valem a pena parar o tempo para lembrar deles, ao contrário, devemos esquecê-los lá mesmo onde os deixamos.

Sonhos frustrados;
Amores perdidos;
Amizades rompidas;
Palavras malditas;
Pecados perdoados e esquecidos também.

Sim, se perdoados, também esquecidos, não é assim que deve ser?

Se porém temos que ter SAUDADE e parar o tempo para as recordações, que seja então dos bons momentos da breve história de vida que vivemos, e nada mais do que isso. Porque tanto o tempo quanto a vida não param, não param não!

Esse é o momento que não é recordação, mas logo será apenas um pouco de SAUDADE também, não é? Um instante que valerá a pena trazer a memória. Uma lembrança que nos resgate novamente a esperança. Aquela que merece segurar o tempo e dela se ter SAUDADE, ainda que por um pouco de tempo.

Sim, porque agora é presente, o lugar em que estamos preparando apenas a SAUDADE que iremos certamente sentir amanhã, quando igualmente como quase tudo, hoje será apenas um pouco mais de SAUDADE.
Foto: eu com 14 anos

Um comentário:

Denise disse...

Sabe que lendo esse artigo, Gerson, me vieram à lembrança, momentos gostosos do meu passado... deu até pra suspirar... momentos da minha infância. Realmente é lembrarmos daquilo que foi bom, que nos fez bem, e o resto, deixar no esquecimento.