sexta-feira, 13 de março de 2009

O REALEJO


Ali o menino robusto de olhos ávidos de curiosidade, se encantava com aquele pequeno artefato mecânico nas mãos do velho homem de roupas estranhas. Os olhos do menino fixados naquela caixinha gozada que emitia um som como fosse aquela música de circo mambembe. Como hipnotizado, o menino ficava bem próximo do velho, enquanto este girava lentamente uma manivela ao lado da caixinha, para que dela saísse aquele som de fantasia.

O velho carregava ainda em seu ombro um pequeno papagaio que ao comando do velho homem, abria uma gavetinha na frente da caixinha de músicas e com o seu bico torto, retirava um pequeno cartãozinho e o entregava ao velho.

Os olhos do garoto incendiavam de puro entusiasmo ao ver aquela cena, e o seu coração parecia explodir de enorme alegria.

Era o velho realejo, que saia pela vizinhança para anunciar que o circo estava na cidade e que iria ter espetáculo à tarde. Aquilo tudo era irresistível para a garotada toda que já rodeava o velho realejo e seu papagaio esperto, fazendo um grande alvoroço.

O menino de olhos brilhantes e com o rosto vermelho de corado, corria afoito para sua casa, para conseguir junto ao pai, o dinheiro para a entrada no circo.

Ah! As lembranças.

Naqueles idos de 1968, quando morávamos no interior do Estado de Goiás, era para mim e para meu irmão mais velho... "uma coisa" a chegada do circo itinerante na nossa cidade. Fazíamos de tudo para que nosso pai permitisse, liberasse a "verba" do circo. Nosso comportamento de garotos "levados da breca", mudava da "água para o vinho". Tudo para conquistarmos nosso pai e conseguirmos o dinheiro dos ingressos.

Agia-mos de forma "combinada", executando pequenos serviços domésticos de maneira a impressionar nosso pai. Arrumávamos nossos poucos brinquedos espalhados e nosso material de escola. Dávamos uma "maqueada" no nosso quarto. Escondíamos nossas bagunças nas gavetas e guarda-roupa de maneira a "darmos aquela aparência" de que estava tudo em ordem, e pronto!

Fazíamos então aquelas caras de anjinhos e nosso pai nos dava dinheiro dos ingressos. Então lá íamos para o circo, mas nunca sem antes recebermos todas aquelas exortações e recomendações do nosso pai.

Mas era só nos juntarmos a garotada agitada, e o nosso comportamento se nivelava com a maioria e assim, aquelas feições quase angelicais diante do nosso pai, ficavam exatamente iguais a toda aquela meninada sapeca.

Sabe, essas lembranças hoje, me dão a noção do que acontece também em nosso relacionamento com o Nosso Pai Celestial. Queremos muito determinadas coisas, materiais ou não. Fazemos "de um tudo" para impressionar o SENHOR com a finalidade de obtermos o que tanto queremos. Pedimos incessantemente. Oramos e clamamos com intenso fervor. Alguns chegam mesmo a dedicarem algum tempo em jejum e meditações. Vamos todos os dias ao templo. Colocamos nossas melhores vestes e nos sentamos nos primeiros lugares no templo. Quase estouramos os pulmões em louvores e cânticos exacerbados até e emitimos um sem número de Aleluias, Glória a DEUS!

Na grande maioria das vezes, ainda que procedendo dessa forma e tendo o aparente comportamento que entendemos ser a de um verdadeiro filho, não obtemos a resposta que nos preparamos para receber: O SIM!

Assim como o meu velho pai, que nos conhecia o comportamento diário e atento estava àquela aparência angelical que poderia enganar a todos; mesmo concedendo por amor a nós, não deixava de requerer de nós, o comportamento adequado e sincero ao que ele, nosso pai, esperava de nós.

A Palavra de DEUS nos dá uma dica importante de porque o Nosso Pai não nos dá tudo o que pedimos, quando diz: Pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites.

Nossa natureza que possui aquela tendência "levada da breca", meio assim por dizer: Egoísta. Têm-nos muitas vezes, mantido nossos corações adultos, presos à infância.

Muitas coisas durante nossas vidas nos atraem como "a imagem e o som de um realejo encantado", exercendo sobre nós, uma força estranha, para fazermos o que desejamos apenas, ainda que não devamos. Claro, porque nem tudo que podemos fazer é certo fazer, né?

Mas como crianças "mimadas", insistimos em fazer assim mesmo. E como diria vovó: "Vai dar com o burro n'água!"

Mas com Nosso Pai Eterno, as aparências não enganam. "Porque o SENHOR não vê como vê o homem, pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o SENHOR olha para o coração."

Existem muitas coisas que são oferecidas diante dos nossos olhos e nos atraem como os sons de uma caixinha de músicas, tocada por um velho realejo. Outras tantas como o encantamento que as alegrias e surpresas que nos sugerem um espetáculo de circo. Todavia, o tempo da infância espiritual já passou. É hora da gente entender, discernir as coisas como o Apóstolo Paulo registrou:

"Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino."

Aqui digo novamente, não mais como um menino robusto, com olhos brilhantes e deslumbrados. Digo apenas o que tenho aprendido no rigor da realidade que se faz perceber pela maturidade.

"Examinai tudo. Retende o bem. Abstende-vos de toda a aparência do mal. E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor". Amém!

Ah! Mas como era engraçado ver o "palhaço" levar tortas na cara, não era, hein?

Um comentário:

Nile e Richard disse...

Olá Gerson,bom dia.
Pela 1ª vez visito o seu blog.
Recebi uma mensagem destinada a outra pessoa e vim te fazer uma visita.
Obrigado pela canção amigo.
Gostei muito do seu texto,espero voltar mais vezes.
abços.Nile.