quinta-feira, 17 de março de 2011

CAMINHÃO-DE-MUDANÇAS

"Só possuímos na vida o que dela pudermos levar ao partir. Nem mesmo o nosso corpo nos pertence."

Outro dia me lembrava de uma frase que ouvi em um sermão que era mais ou menos assim: "Ninguém já viu um caminhão de mudanças seguindo um enterro."

Isso se referia ao fato de que viemos ao mundo nus, e que sairemos dele do mesmo jeito. Nada levaremos do que aqui nos pareceu ser tão indispensável, tão necessário.

Eu então me recordei de que tive uma vida quase nômade. Filho de pastor evangelista e depois ordenado e eleito pela comunidade. A gente passou a vida inteira trocando de casa, mudando de cidade e de estado de tempos em tempos.

Parecia que parte da mudança já ficava pronta para partir. Depois de anos que havia me "desgarrado" da familia e ficado para trás em uma dessas mudanças, eu mesmo passei por uma em especial que vou compartilhar com vocês aqui.

Havíamos nos mudado no começo do ano para a cidade onde morava toda a minha família, após 23 anos daquela "desgarrada" que mencionei antes.

Tentávamos, além da mudança de ares, emprego para nos estabelecermos em Goiás. A cidade onde morava minha familia, vivia naqueles anos, uma "bolha" de progresso devido a instalação de indústrias novas e com isso, a expansão do emprego/trabalho na região, ao contrário da retração que acontecia na minha região de origem.

Enchemos um caminhão baú com toda nossa mudança, que incluía toda a mobília, eletroeletrônicos, utensílios domésticos, roupas e quinquilharias que ainda existiam do meu primeiro casamento.

Mandamos tudo na frente e viajamos de carro emprestado, por mais de 1000 quilômetros, levando no carro, um casal de "Weimaranners" adultos (Acho que é assim que se escreve o nome da raça).

Digo tudo isso para se ter ideia do "caminhão de mudanças" que carregávamos na ida.

Fomos cheios de expectativas para uma vida nova, em um ambiente novo e perto de pessoas amadas que muito desejaram essa nossa chegada.

Alguns dos motivos pelos quais nossa estada por lá foi frustrada, já contei aqui mesmo no 'blog' ao longo de 5 anos de publicações. Se você não tiver mais nada prá fazer nos próximos meses, dê uma lida, tá bom?

Continuando: Menos de um ano depois, tivemos que retornar, e então, não havia mais o lugar para voltar com a mudança. Havíamos vendido a nossa casa.

O jeito então foi botar toda nossa mudança, toda mesmo, à venda. Tudo o que tínhamos e tudo o que conseguimos depois, foi deixado para trás.

Vendemos a preço de banana na hora da "xepa" a maioria dos móveis, equipamentos e eletrodomésticos, algumas roupas e utensílios, e fizemos uma doação generosa para nossos familiares e amigos.

Tivemos ainda que deixar nossos cachorros, o casal e mais 9 filhotes, que vendemos ou doamos para amigos. Aqui faço um aparte para imaginar que se depois de 7 anos, se eles estiverem vivos, será que nos reconheceriam ainda, hein? Quem sabe, né?

Na última noite antes de iniciar a viagem, dormimos em um colchonete no meio da sala vazia, na companhia inesperada de uma gatinha branca de rabo quebrado que entrou pela janela e dormiu ao nosso lado.

Nossa partida foi de surpresa para a nossa família. Saímos de madrugada para não ter que despedir novamente de todos. Praticamente fugimos dessa despedida tão difícil e dolorosa.

Em um carro pequeno que conseguimos adquirir, colocamos alguns sacos com roupas; acomodamos uma TV 29'' e alguns álbuns de fotografia. Minha esposa, que nunca havia dirigido em estrada, e mesmo na cidade por mais de meia hora, foi a motorista nessa viagem maluca, por mais de 14 horas, atravessando 3 estados. Eu já não conseguia mais dirigir por causa da visão que piorara muito naqueles poucos meses.

Tudo isso que compartilho com vocês agora, é apenas para dizer que nada do que deixamos da mudança para trás nos fez falta, mas ao contrário, nos permitiu uma nova etapa da vida com mais leveza e até mesmo mais simplicidade.

Em termos de vida vivida, o que ficou para trás era excesso de bagagem. O que no entanto, continuamos carregando em nossos corações, em nossas memórias são as lembranças dos nossos queridos, as experiências que edificaram nossas existências, as emoções vividas e uma consciência serena de que fizemos o melhor que estava ao nosso alcance para fazer.

Aprendemos ainda, com essa experiência toda, a nos desapegar das coisas que podem ser carregadas em um caminhão de mudanças, mas não podem ultrapassar os limites dessa vida.

Aprendemos a valorizar o que tem valor e a investir naquilo que nem a traça, o ladrão e o tempo, podem roubar de nós: A fé, a esperança e o amor.

Aprendemos que tudo que nós conseguimos com o trabalho e nosso suor aqui nessa terra, está a venda e pode ser comprado e depois vendido, doado, ou mesmo abandonado, mas nossas emoções experimentadas, e sentimentos vividos, nem sequer podem ser emprestados. Isso é o que realmente somos e portanto, permanecerá conosco para sempre.

Temos aprendido também, que ainda temos muito o que aprender nessa e em muitas outras áreas. Humildemente sabemos que se todo o resto que pode ser carregado no "caminhão de mudanças" nos faltar, o SENHOR DEUS em quem investimos nosso ser e procuramos honrar com nosso viver, jamais nos faltará. Ele é o nosso Tesouro Eterno.

"Não ajunteis para vós tesouros na terra; onde a traça e a ferrugem os consomem, e onde os ladrões minam e roubam; mas ajuntai para vós tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem os consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam. Porque onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração." (Mt. 6:19-21)

Nesses tempos de perplexidade diante das catástrofes naturais que vitimam cidades inteiras e arrasam países de lá e de cá; independentemente se pobres ou ricos.

Apesar da dor e do sofrimento que isso está causando, há que se fazer uma pausa para refletir: Onde estamos colocando o "nosso tesouro"? Lá onde não há dolo, não há choro nem ranger de dentes; não há pavor repentino. Lá onde nem a traça, nem a ferrugem, nem o ladrão, nem os poderes da natureza e nem mesmo a morte súbita pode nos tirar? Espero que sim.

Que o SENHOR seja também o seu Tesouro, viu?


OREMOS PELO JAPÃO!

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