segunda-feira, 31 de maio de 2010

QUANTA GENTILEZA, HEIN!

Tem coisas que aborrecem tanto a gente que perdemos a elegância momentaneamente. E uma dessas coisas é receber algo não solicitado como por exemplo, um cartão de crédito. Você quer algo mais chato, mais desagradável do que querer que a gente engula um negócio que não quer e não pediu? Não é chato, hein?

Da última vez que isso aconteceu conosco, eu até fiquei irado por demais. Tínhamos ido a uma loja de departamentos, uma dessas grandonas que tem por todo mundo, para comprar um sapato. Mal a gente pisou no primeiro metro do piso da loja, já fomos abordados por uma gentil vendedora que foi nos oferecendo o cartão da loja. Pegou a cena?

Pois bem... Dissemos que não estávamos interessados e fomos escolher o sapatinho da minha princesa, a patroa. Não tinha o de cristal que ela merece, e acabamos comprando um de couro legítimo - como diria minha exigente mãezinha. Quando olhamos para o lado, não é que já havia outra gentil vendedora ofertando "de grátis" o danado do cartão da loja - "sem anuidade", dizia ela. Minha esposinha, igualmente simpática , caiu naquela de perguntar o que era preciso para ter o cartão.

(Pausa para uma observação: Se você não está a fim de ficar grudado no chiclete, não pergunta nada para a vendedora de loja de departamento, tá? Quem avisa amigo é!)

Encurtando a conversa... Acabamos "ganhando" não um cartão, mas pasmem... dois cartões totalmente "de grátis".

Fomos ao balcão da financeira. Fornecemos os dados solicitados, e depois de tudo verificado, a moça muito gentilmente, ofereceu o cartão de crédito da mesma financeira, com aquelas "vantagens" todas, pelas quais haveria uma pequena anuidade. Evidentemente eu disse gentilmente, mas já nem tanto, que não queríamos, até porque já tínhamos cartão. Assinamos aqueles papéis de praxe e fomos passear.

Não é que uma semana depois, chegou pelo correio, um envlopão pesado, com, não dois cartões da loja, mas seis cartões. Entendeu? Isso mesmo, seis cartões. Três da loja e três de crédito.

Já o sangue calabrês subiu na testa na mesma hora. Mas logo arrefeceu com a perspectiva de que se não usar não vão cobrar. Ledo engano. Dias depois chegou a fatura da compra e uma outra fatura cobrando a primeira de três parcelas da anuidade do titular e dos cartões adicionais. Tá bom prá você ou quer mais, hein?

Após várias ligações, e um tempão inútil de espera no telefone, para no final escutar a mensagem da gentil secretária eletrônica, para que procurássemos a loja mais perto. Indignei geral e quase pirei total. Ninguém merece tanta gentileza, né não?

Devo confessar que fiquei "apertado dentro das minhas calças" e até ensaiei uma porção de frases demolidoras, para despejar em cima da primeira gentil vendedora da loja. Sim, porque normalmente sou praticante da gentileza e cortesia, coisas que prezo e admiro nas pessoas. Mas eu estava 'brabo' mesmo, e admito, fui "armado" de cinco pedras, pronto para despejar no balcão à primeira pergunta que me fosse feita. Tinha na ponta da língua o argumento, a réplica, a tréplica e por ai vai. Sabe quando você vai ensaiando o texto com a sua esposa durante todo o trajeto? Pois foi.

Chegando na loja, fomos diretamente ao balcão da financeira e achamos a gentil atendente, que ao ver minha imponente bengala branca, deu a preferência na fila e nos convidou a assentar a sua frente. Aquilo já me desarmou umas duas pedras da mão, viu? Então ela muito gentil perguntou o que poderia fazer por nós.

Eu comecei a explicar tudinho, me contendo enquanto segurava as outras três pedras - metafóricas é bom que se diga aqui, né? Ela me ouviu e ao terminar, me disse que iria ligar, e já foi ligando, para a financeira. Sempre com muita cordialidade, falando com a colega ao telefone e conosco, resolveu em poucos minutos aquela situação.

Pediu desculpas pelo ocorrido e cancelou todos os cartões de crédito com a maior tranquilidade e simpatia. Fiquei murcho! Larguei as outras pedras da mão, e fiquei até frustrado por não ter tido a chance de usar todos os meus argumentos tão bem ensaiados. A gentileza daquela atendente quebrou as minhas pernas e me lançou de cara no chão. Se ela tivesse agido de outro modo, a minha ira teria sido alimentada, mas sua resposta serena, com efeito me desarmou completamente.

Quase imediatamente me veio ao coração a aplicação das Escrituras que com sabedoria diz: "A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira." Aquela moça, de fato e de verdade, usou intuitivamente ou não dessa sabedoria, e ao fazer isso, me constrangeu o coração. Fiquei envergonhado.



Sim, porque eu, na minha indignação justificada, de cidadão/consumidor, estava atropelando aquilo que mais acredito e firmemente defendo em todos e para todos. A Gentileza gera a gentileza.

Assim é que a gente deve mesmo se policiar constantemente, para não sermos contaminados pelo excesso de grosserias e descortesias que imperam na sociedade dos nossos dias.

Sabe, nas mesmas Escrituras, tem uma Palavra do apóstolo Paulo que diz? "Bem-aventurado aquele que não se condena a si mesmo naquilo que aprova." que aqui utilizo, mesmo descontextualizada, mas que lança ensino sobre essa prática e suas verdades ao nosso coração.

Nós gostamos de ser atendidos com gentileza, logo devemos atender as pessoas com gentileza também.

Criticamos aqueles que não dão lugar as grávidas e idosos no ônibus, mas e quando o único fora dessas condições é você, hein?

E na fila do caixa, damos preferência aos deficientes e idosos?

No estacionamento deixamos as vagas especiais para cadeirantes exclusivamente para eles, ou damos aquela de 'mané' e ocupamos essas vagas?

Respondemos com um sonoro "obrigado" quando ao espirrarmos, alguém nos diz: "Saúde!"

Retribui-mos um "Bom dia" com outro "Bom dia" ou ao menos um sorriso, um gesto simpático. Fazemos isso?

Cumprimentamos um trabalhador uniformizado que varre a calçada da nossa casa ou simplesmente o ignoramos?

O carteiro que nos entrega as nossas correspondências todos os dias, agradecemos? Sabemos o seu nome? Sua aparência?

Costumamos demonstrar gentileza com os nossos vizinhos, ajudando-os a carregar suas compras quando estão atrapalhados com elas?

Desenvolvemos o saudável hábito de agradecer o garçom que nos serve o almoço, ou as nossas esposas quando servem nosso prato no jantar?

Elogiamos nossos filhos pelo bom desempenho na escola ao lermos seu boletim? Fazemos isso?

Nem sempre, não é mesmo? Mas nos aborrecemos quando não recebemos essas gentilezas, essas delicadezas, essas cortesias para com a gente, né não? Cobramos gestos elegantes e atitudes corteses de todo mundo, mas nos incluímos nisso, ou não?

É duro constatar que essas práticas são confundidas com fraquezas, frescuras e "coisa de mulherzinha", se é que me entendes. Mas não vá usar isso como desculpa para ser um tosco, grosseiro. Faça a sua parte mesmo que seja o único a fazer. Não justifique uma falta de gentileza porque "todo mundo faz" que isso sim, é hipocrisia, né?

Agora, e no ambiente virtual. Recentemente eu compartilhei um texto sobre esse assunto, "Gentileza gera gentileza", muito bem escrito pela jornalista Eliane Brum, e que me foi repassado por uma amiga.

O retorno ao e-mail que enviei, estatisticamente foi uma decepção. Um reflexo de que nem mesmo nesse aparente descompromissado mundo virtual, as pessoas atentam para a pratica da gentileza.

Claro! Louvores aos 3% que retornou e gentilmente comentou a crônica dela. Muito obrigado pelas respostas generosas, tá?

Ah! Você tem o hábito de agradecer a Deus por todas as gentilezas despejadas em forma de bençãos diárias sobre a sua vida e de seu lar, hein?

Sim, minha querida e distraída amiga, e meu simpático amigo... "Gentilezas geram gentilezas" horizontais e verticais também, viu?

Pense nisso!

Um comentário:

Anônimo disse...

Gostei...
incluindo a distração de não nos atentarmos a isso, também soa como falta de respeito muitas vezes, e não gostamos quando se passa conosco... Algo se pensar e atentar mais e fazer sobrar quem sabe tempo,para o que vale a pena... amor, gentileza... sentimentos bons cultivaveis, as vezes colhiveis rs...
bjo no tio
Joyce