Olhar para fora

Hoje me ví surpreso ao olhar prá dentro de mim. Com o passar dos dias, fui perdendo a lembrança da minha própria imagem. Não um esquecimento perverso ou por alguma fuga da minha realidade, mas porque a memória agora me tem resgatado o semblante do passado que nem o tempo e as dores não atingiram. Não há qualquer traço de sofrimento nisso, mas uma interessante compensação da mente e dos quatro sentidos que se manteem. Olho então para dentro, como olhasse um espelho Vejo alí um menino, uma esperança atrás do sorriso, um brilho nos olhos que nem me lembrava já ter tido algum dia. Recordei alí a efervecência da minha adolecência aos quatorze, quando tive meu primeiro encontro com o verdadeiro amor, sem igual, completo e perfeito amor. Encontrei o amor de Deus. Apesar de conhece-lo por ouvir falar, mas agora e à partir daquele especial encontro, de andar com Ele na pessoa de seu filho Jesus. Não tinha sequer noção do quão importante seria aquele encontro para minha vida adulta. Aquele menino cresceu, o brilho moleque no olhar acabou por se apagar, a luz que outrora penetrava e refletia em minha retina se tornou em breu, mas aquele primeiro amor, aquele espantosa graça que iluminara minha vida ha trinta e cinco anos atrás, permaneceu em minha mente iluminando como um farol, me guiando para Ele, meu primeiro amor me trouxe até aqui, me livrou de muitas e me ofereceu o escape para outras tantas, como se quisesse preparar para este momento, para registrar este testemunho. Mesmo ao olhar para fora e nem sequer ver minha própria imagem refletida, tenho em meu coração a plena convicção de que ela, minha, talqual a sua, foi feita à semelhança do criador, aquele que me tirou das trevas e me transportou para o reino do filho do seu amor .

Gerson Palazzo