E então perguntas para tua alma:
- "por que estás abatida e por que essas lágrimas aparecem teimosas à beira dos meus olhos?
“Por que elas ficam ali penduradas, como a decidirem se rolam soltas sobre a face ou se recolhem e secam”?
Ah! As lágrimas.
Pelo que elas enfim nascem? Qual é esse sentimento estranho e indesejado que as fazem brotar, aflorar aos olhos e insistirem em molhar o teu rosto? O que é isso? Você já sabe? Por que quando buscas nas memórias das boas lembranças, encontras a mesma sensação de quando te recordas das más?
Que sentimento é esse que persiste em incomodar teus pensamentos e te causar a recordação que não deveria mais existir em teu coração? Que sensação é essa de que não há agora, simplesmente porque nunca houve antes? Por que continuas a se perguntar:
- "Por que minha alma se agita, estremece e está tão perturbada novamente?"
Lágrimas que já foram vertidas uma vez e outras tantas pelo mesmo motivo que as fez rolar a tanto tempo atrás. Sentir e sentir, ressentir aquilo que já foi; que não tem jeito; que somente dói em você. Por causa do que? Por causa de quem?
Isso te consome, oxida tua alma como ferrugem e como traça, corrói tua alegria, enferma tua alma e o teu corpo adoece de pesar.
Ela não volta para ser tua, porque nunca foi.
Ele jamais reconhecerá tudo que você fez por ele. Seu pai nem se lembra mais que te magoou ao preterir seu irmão. Aquela amizade tão próxima, tão chegada - acabou. Desgastou-se ou nunca foi. Quem o saberá?
Ah! Essas lágrimas outra vez. Alimentando um sentimento solitário em que só você sente, ressente e sofre.
É sem remédio - sem solução. A vida se arrasta prá você, o peso do fardo atrasa o teu desenvolvimento. Há um arrependimento ou será um remorso que te acusa a alma e te provoca essa angústia?
Lágrimas e lembranças amargas. Raízes-de-amargura se fixam, te prendem a um passado no qual somente você insiste em permanecer. O Objeto do seu rancor sequer existe, ou nem mesmo memória tem daquilo que tanto te consome. Amargura!
Sim, tua frustração não pode arranhar o sono do alvo do teu desafeto. Não podes fazê-la sentir ou ressentir o amargo em que pulsa teu coração. Não podes! "Guardar ressentimento é como tomar veneno e esperar que a outra pessoa morra". (William Shakespeare)
Há, entretanto, um tratamento que de ti, pode arrancar com raiz e tudo, esse sentimento que revives e cultuas. Existe sim um outro alimento que podes trocar por este ressentimento do qual te alimentas e cultivas com tamanha morbidez.
O PERDÃO.
Não há outro. Não existe substituto que se equivalha ao ato de Perdoar, a não ser o de Pedir Perdão.
Ah! Quão doces são as Lágrimas do alívio. O Perdão dado é tão eficaz quanto o do recebido. O remédio pode não ser fácil de ser tomado, mas os efeitos são milagrosos. Permita-se perdoar.