Tantos deveres,
tanta preocupação em acertar tudo.
Tanto empenho em passar na vida sem errar...
Um esforço "hercúleo" todo santo dia para não
frustrar, não decepcionar, não cometer nenhum ato falho, fazer tudo direitinho
conforme o esperado, conforme um certo roteiro.
Aí a vida vai ficando sem tempero, chata, previsível,
pasteurizada, morna, politicamente
correta e existencialmente sem graça.
A gente acaba sendo "encaixotado" de tal
maneira pelas convenções, pelos paradigmas forjados para nos manipular, pelas
modas, tendências e estilos que escravizam a gente e tira de nós a
espontaneidade, a sinceridade, a simplicidade, a autenticidade do falar e do
agir. Aliás, o "Politicamente correto" é um "porre", não
acha não, hein?
É tanto "não pode", é tanto "não
deve", é tanta interferência, tantas "regrinhas" de etiqueta,
tanta filigrana que deixa a gente atordoado e perdemos até mesmo o nosso jeitão
espontâneo de nos comportarmos em um local ou outro.
Ficamos desconfortáveis dentro das nossas próprias
calças.
Já se sentiu assim? Parece que alguma gafe, algum 'mico'
estamos cometendo ou prestes a cometer, né não?
Tem tanta gente sentada em algum gabinete, algum
escritório, ou até em algum boteco por aí, bolando novos roteiros, novos
modelos para "encaixotar" as pessoas naquilo que se pode e daquilo
que não se pode falar em sociedade, que se deve ou não vestir, onde se deve ou
não ir, a música que está na moda e a que é brega. Além é claro, daquilo que se
deve ou não acreditar. São alguns dos tais formadores de opinião. Quando
querem, fazem da gente um laboratório para provarem suas "invenções".
Aqueles que não se enquadram são "fora de moda", já os que se
submetem ao roteiro, são "por dentro", seja lá o que isto quer dizer,
né?
Um exemplo que ilustra um pouco esta coisa exagerada
toda: um amigo meu comentou-me: Chamar seu melhor amigo obeso de gordo é 'bullying'. Se ele é da raça
negra, chama-lo de 'negão' é racismo e se ele for homossexual e chamá-lo de sua
"biba véia" então? Preconceito, homofobia e outras coisinhas mais.
Nesta situação, o politicamente ficaria grotesco, compara ele:
"Olá meu grande amigo "levemente fora do peso,
idoso, afrodescendente com orientação homo afetiva... há quanto tempo,
hein?"
Putz, fala sério, um tédio!
Sim, há exageros demais, controles demais, hipocrisias
demais, não acha não?
No caso do tal "politicamente correto" em que a
própria sociedade regula e cria modos de proteger as minorias (que já nem são
tão minorias assim), de serem humilhadas, hostilizadas verbalmente e feridas em
sua dignidade humana, acabou-se criando guetos de isolamento e em outros
grupos, privilégios excessivos. Bom, deixa este assunto para os formadores de
opinião, filósofos, sociólogos de plantão, né?
Mas e essa coisa então de não poder dar umas palmadinhas
na bunda gorda do seu filho malcriado, hein? Já nascemos com duas almofadas prá
quê? (rsrs...)
Frequentemente, a sociedade regula-se pelos maus exemplos
e por causa dessas exceções que se enquadram é no código penal brasileiro, o
cidadão de bem, o pai zeloso da educação dos seus rebentos, vira bandido,
agressor de menor, e por aí vai. Estamos acuados, de pés e mão atados, criando
outra geração sem educação, sem respeito, sem ética e valores morais, sem
disciplina, sem afeto, desobediente, agressiva, mas para essa sociedade frouxa
que quer compensar o fracasso na educação desta geração, agindo pelas
"regrinhas e do politicamente correto", estamos "por
dentro". Será mesmo, hein?
Particularmente eu acredito que para se aperfeiçoar a
convivência em sociedade as pessoas não precisam ser iguais, pois ninguém é
sequer semelhante ao outro. A imperfeição faz parte do ser humano e apenas e
tão somente negá-la, é querer tapar o sol com uma imensa peneira, né não?
Uma rateada, um mico, uma gafe, são ingredientes hilários
e temperam as relações interpessoais. Fazem parte do nosso cotidiano. Ainda bem
que existem um remanescente politicamente incorreto, alguns filosoficamente
transgressores, alguns comediantes, para animar e divertir a gente de vez em
quando, né não?
Além de ser um "porre" na maioria das vezes, o
politicamente correto também não contempla igualmente, democraticamente as
críticas daqueles tais formadores de opinião, quando são cometidas por ricos ou
pobres, já notou isto?
Se um rico ou famoso comete uma gafe, um ato falho, é
porque é excêntrico e se contemporiza. Agora, se eu ou você tropeçamos nas
regrinhas... "nóis tá na vala"!
Penso que se somos nós mesmos aqueles que sofrerão as
consequências dos nossos atos por escolhermos e decidirmos o que, onde, como
fazer as coisas do cotidiano, então por que sermos cobrados por coisas "politicamente" certas criadas por outros quando elas dão errado ao
final, hein? Já parou para pensar nisto?
Afinal de contas, esta sociedade não é perfeita. Nossos
pais não são perfeitos. Nossa esposa, ou nosso esposo não são nada perfeitos.
Nossos governos, nossos políticos estão longe de serem perfeitos. Os líderes,
empresários, gestores, chefes e patrões não são perfeitos. Os formadores de
opinião, educadores, religiosos não são perfeitos. Nossos filhos não são perfeitos, tal como eu e você também não somos
perfeitos, né?
Às vezes penso que a sociedade quer negar que os seres
além de serem diferentes, ainda por cima são imperfeitos. "Errar é
humano" dizem eles, não dizem? Ora bolas, então, VIVA as nossas
diversidades, nossas imperfeições, nossa liberdade para escolhermos por nós
mesmos, né não?
Acho ainda é que precisamos menos controle, menos
hipocrisia, menos interferência, menos omissão, menos privilégio para poucos e
mais tolerância, mais solidariedade, mais transparência, mais liberdade, mais
fraternidade e amor. O que você acha disso tudo, hein?
Não espero
seguidores e muito menos unanimidade, mas espero que as pessoas comecem a
pensar menos pelos modelos e mais por suas próprias consciências.
OBA! Viva essa bagunça organizada que se chama gente!
Posso não saber onde piso, mas conheço o CAMINHO para
chegar aonde quero; porque caminho NAQUELE que creio e não naquilo que vejo.
(Gerson Palazzo)