Enxergar os outros com os nossos próprios olhos, é
naturalmente simples; não exige de nós nenhum
esforço especial. Mas olhar os outros pelos próprios olhos deles, já
exige de nós nos colocarmos no lugar do outro; isto sim exige muita
capacitação.
Não é tarefa fácil e nem pode ser eficaz para ambos se
feita sem uma grande dose de diligência, altruísmo e empatia. Não funciona pura
e simplesmente utilizando-se dos mecanismos de autoajuda disponibilizados pela
sociedade.
Eles não levam em consideração as necessidades
intrínsecas da alma daquele que carece da ajuda e tampouco das limitações
daquele que se sente impulsionado a ajudar.
Somente salta aos
olhos do observador piedoso, o que é perceptível a luz do seu sentir; daquilo
que pode ver com o seu próprio olhar.
Para que se possa efetivamente assistir o que pede por
ajuda, o que clama por justiça, o que grita por socorro, o que já sem forças
geme com gemidos inexprimíveis, é preciso se colocar em seu lugar e ver o
cenário que ele enxerga, sob sua própria ótica; sob sua própria dor.
Para mim, nisto reside a dificuldade toda de atingir as
expectativas do que pede e não gerar frustrações no coração daquele, que sem
capacitação, se move para ajudar.
A Capacidade de ajudar, de prestar socorro, de amparar
seus semelhantes, não está inserida no pacote do ser natural.
O Ser natural tem um instinto de preservar-se em primeiro
lugar, e não se dispõe assim a arriscar-se por outro, ou mesmo investir nele
tempo ou algum dinheiro.
Ele pode até ser um observador da tragédia e penalizar-se
pela calamidade que se abateu sobre outra pessoa, mas o que transforma esse
observador em um ser solidário é uma ação sobrenatural agindo sobre suas
faculdades e sobre seus sentimentos.
Compaixão é virtude do Espírito e não existe naturalmente
no ser humano.
Nos Evangelhos da Bíblia, existe um relato que pode
ilustrar essa tosca tentativa de explicar essa "capacidade" que move o coração daquele que
estende suas mãos e recursos em direção ao que necessita.
Trata-se da história do Bom Samaritano, tão conhecida de
todos, e cuja passagem transcrevo para nossa reflexão (Evangelho de
Lucas 10: 25 -37):
"E eis que se levantou certo doutor da lei e, para o experimentar, disse: Mestre, que farei para herdar a vida
eterna? Perguntou-lhe
Jesus: Que está escrito na lei? Como lês tu? Respondeu-lhe ele:
Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de
todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo. Tornou-lhe Jesus:
Respondeste bem; faze isso, e viverás. Ele, porém,
querendo justificar-se, perguntou a Jesus: E quem é o meu próximo? Jesus,
prosseguindo, disse: Um homem descia de Jerusalém a Jericó, e caiu nas mãos de salteadores, os quais o
despojaram e espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto. Casualmente,
descia pelo mesmo caminho certo sacerdote; e vendo-o, passou de largo. De igual modo
também um levita chegou àquele lugar, viu-o, e passou de largo. Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou perto dele
e, vendo-o, encheu-se de compaixão; e aproximando-se,
atou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho; e pondo-o sobre a sua cavalgadura, levou-o para
uma estalagem e cuidou dele. No dia seguinte
tirou dois denários, deu-os ao hospedeiro e disse-lhe: Cuida dele; e tudo o que gastares a mais, eu
to pagarei quando voltar. Qual, pois, destes
três te parece ter sido o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores? Respondeu o doutor
da lei: Aquele que usou de misericórdia para com ele. Disse-lhe, pois, Jesus: Vai, e faze tu o
mesmo."
JESUS não apenas nos ensina com esta história, mas Ele
mesmo, com a sua própria história deu a escala, a dimensão do Amor que serve,
socorre e salva todo aquele que carece.
ELE nos olha com o nosso olhar e sente a nossa
necessidade, sente a nossa dor e conhece a nossa incapacidade de nos
autoajudar.
ELE se põe no meu lugar, no seu lugar, no lugar da
humanidade e se compadece de nossas tragédias existenciais e estado de
calamidade moral em que nos encontramos.
ELE vai além, muito além de observar-nos e se compadecer
de nossas mazelas; ELE as transfere para si mesmo, sofre nossas
dores em si mesmo, carrega nossos pesares e nossos pecados sobre si mesmo e
paga Ele próprio pelo que merecíamos pagar. ELE quita as nossas
"dívidas" de maneira cabal, completa, definitiva e sem dúvidas.
JESUS nos pode capacitar para aprendermos a olhar o nosso
próximo com os olhos dele. Assim é que compreendendo suas necessidades, ajamos
com compaixão e eficiência.
Que no meigo Olhar de Jesus, encontremos inspiração para
sermos solidários com aquele que precisa. Que as nossas mãos nunca estejam
encolhidas e se neguem a ajudar estando nelas a capacidade de fazer o Bem.
E QUE SEJA ASSIM!
Posso não saber onde piso, mas conheço o CAMINHO para
chegar aonde quero; porque caminho NAQUELE que creio e não naquilo que vejo.
(Gerson Palazzo)