Outro dia eu esbarrei com um antigo ditado que dizia:
"Quanta água você consegue colocar em um barril de óleo de vinte litros?
Nenhuma. Primeiro temos que tirar um pouco do óleo."
Houve um tempo em que eu estava cheio de muitas
convicções a respeito de tanta coisa que aprendera até aquele momento da minha
vida, que já estava muito difícil ouvir calmamente uma segunda
opinião.
Hoje devo confessar que minhas crenças, pelo menos uma boa
parte delas, me impediam de crescer e de evoluir na minha capacidade
de enxergar novos olhares sobre aqueles mesmos temas.
Tenho agora a impressão que eu me tornara um cara
intolerante ao ponto dos meus amigos me preterirem quando determinados
assuntos eram tratados entre eles. Acho até que perdi algumas reuniões,
festinhas e alguns outros eventos por causa de minhas convicções inflexíveis
naqueles tempos da juventude.
Muito cedo ainda, eu já possuía um "barril"
completamente cheio de óleo que quase transbordava a uma simples tentativa de colocar
uma gota de água. Isto me impedia de aprender além das minhas crenças
e obviamente, de expandir minhas fronteiras intelectuais.
Além de empobrecer os diálogos, provavelmente ainda
provocava estranhezas nos relacionamentos entre colegas e amigos.
No entanto, eu não diferia muito deles. Naqueles tempos
de muitos hormônios nas veias e poucas conexões no cérebro, a gente
não adquiriu o hábito, por exemplo, de falar do que sentíamos ao invés
do que pretensamente sabíamos. Claro, falar sobre o que se
sentia era coisa de fracotes e de meninas, não era? Pois bem, com o
"barril" cheio, ideias preconcebidas também tínhamos de sobra, viu?
O fato era que estávamos completamente,
transbordantemente com os nossos "barris" sem espaço para aceitarmos qualquer
argumento, suficientemente bom para abandonarmos as nossas certezas. Tolices da
mocidade, não é mesmo?
"As pessoas sábias estão sempre abertas a novas
ideias e crenças, e até a respeito de si mesmas."
Mas até que enfim a gente cresceu, amadureceu, alargou os
espaços das nossas mentes ao esvaziarmos uma boa parte do nosso
"barril" e pudemos experimentar novas e renovadas ideias, que alteraram
significativamente nosso modo de enxergar a vida. Sim, adquirimos uma
consciência do nosso significado nesta existência, para nós e para a sociedade
que vivemos.
Nosso comportamento passou a refletir essas mudanças de
dentro para fora. Ficamos mais tolerantes e menos intransigentes.
Conseguimos estabelecer padrões menos rígidos, menos dogmáticos, para
encaixotar as pessoas que se relacionam conosco. Nossas percepções de
mundo, de valores, de religiosidade, de fé e a nossa consciência de
Deus, também amadureceram, evoluíram, foram renovadas como vinho novo
colocado em odres novos.
Acho que estamos melhorando cada dia mais daquilo que já fomos. Você também não acha isso de si mesmo?
Se o entendimento que tenho hoje, a sensibilidade para
perceber o que diz a outra pessoa, a paciência para escutar seus
argumentos, e a humildade para reconhecer as falhas nos meus próprios
argumentos, talvez alguns dos meus amigos, ainda seriam os meus melhores
amigos. Que pena que alguns deles ainda não esvaziaram um pouquinho seus
"barris de óleo" para caber a nossa velha grande amizade. Sim!
Porque para enchermos as nossas mentes de coisas novas e boas, é preciso primeiro nos esvaziar daquelas velhas opiniões
formadas sobre tudo, né não?
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