Sabe aquela parábola contada pelo Mestre Jesus nos
Evangelhos - O Filho pródigo? Talvez seja a mais citada e a mais lembrada
daquelas tantas usadas por Jesus para ensinar seus seguidores a pensar sobre as
coisas do espírito. Coisas que não podiam ser discernidas pelas mentes cheias
das crenças coletivas daquele povo.
Toda vez que leio novamente a mesma história do filho
pródigo, acabo observando alguma coisa diferente daquela que havia enxergado
antes. Isto é enriquecedor para a minha vida, pois cada lição,
me dou conta que há muito que ser aprendido naquilo que pensava já saber.
Na parábola que todo mundo já tá careca de ouvir, o filho
mais novo de um rico senhor, exigiu a sua parte na herança e saiu pelo mundo
para torrar até o último centavo. Lembra disso? (Lucas 15:11 a 24)
Tem aquela parte da comida dos porcos que é um nojo só,
mas que foi o ponto crucial, o fundo do poço em que aquele filho tomou a
decisão de voltar a casa do pai com o rabinho entre as pernas.
Ao lembrar-se da casa do pai, as mordomias, a fartura, a
comida, e o tratamento que até os servos da fazenda desfrutavam na casa do seu
pai, e se vendo a desejar comer das bolotas dada aos porcos, ele se arrependeu
e tomou a decisão de voltar.
Aqui uma pequena pausa para falar sobre a palavra
Arrependimento. Na Bíblia Sagrada, esta palavra de origem grega - metanoia,
significava "mudar de ideia". É como se alguém que estivesse indo em
uma direção, repentinamente, mudasse radicalmente a direção e tomasse uma
direção absolutamente nova. Pegou a ideia, né?
Até ai, tá tudo normal, mas na minha releitura, percebi
uma coisa incrível que modifica completamente o jeito de entender esta
parábola. Consegui perceber o jeitão do pai se antecipando ao
pedido de perdão, preparado pelo filho enquanto humilhado voltava ao lar
paterno.
O pai ao vê-lo ainda distante, correu até o filho e o
abraçou gostosamente. Não o repreendeu pelo que havia feito com a sua herança,
e nem o recriminou por voltar para casa naquele estado. O pai apenas o abraçou
com força e demonstrou todo o amor que nutria pelo seu filho gastador.
Não é o que se espera de um pai? Você faria deste jeito
também?
Na narrativa de Jesus, ele parece querer dizer que a sua
preocupação é muito maior com o pecador do que propriamente com o pecado
cometido.
Nesta minha releitura foi o que mais me chamou a atenção.
Deus, na figura do pai amoroso, está preocupado com fato do seu filho haver se
arrependido e voltado para ser reconciliado com o pai. O Pai parece estar muito
mais preocupado em reatar um relacionamento do que julgar, condenar o ato.
Quer ver só? Leia o texto original de novo, e perceba o
que percebi. Procure no texto e nas entrelinhas, alguma menção
condenatória feita pelo pai. Leia!
"Disse-lhe mais: Certo homem tinha dois filhos. O mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte dos
bens que me toca. Repartiu-lhes, pois, os seus haveres. Poucos dias depois, o filho mais moço ajuntando tudo,
partiu para um país distante, e ali desperdiçou os seus bens, vivendo
dissolutamente. E, havendo ele dissipado tudo, houve naquela terra uma
grande fome, e começou a passar necessidades. Então foi encontrar-se a um dos cidadãos daquele país, o
qual o mandou para os seus campos a apascentar porcos. E desejava encher o estômago com as alfarrobas que os
porcos comiam; e ninguém lhe dava nada. Caindo, porém, em si, disse: Quantos empregados de meu
pai têm abundância de pão, e eu aqui pereço de fome! Levantar-me-ei, irei ter com meu pai e lhe direi: Pai,
pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho;
trata-me como um dos teus empregados. Levantou-se, pois, e foi para seu pai. Estando ele ainda
longe, seu pai o viu, encheu-se de compaixão e, correndo, lançou-se-lhe ao
pescoço e o beijou. Disse-lhe o filho: Pai, pequei conta o céu e diante de
ti; já não sou digno de ser chamado teu filho. Mas o pai disse aos seus servos: Trazei depressa a melhor
roupa, e vesti-lha, e ponde-lhe um anel no dedo e alparcas nos pés; trazei
também o bezerro, cevado e matai-o; comamos, e regozijemo-nos, porque este meu
filho estava morto, e reviveu; tinha-se perdido, e foi achado. E começaram a
regozijar-se." (Lc. 15:11-24)
Percebeu?
Não?
Leia de novo com atenção.
Sabe, para mim ficou patente que Jesus queria ensinar
seus discípulos que o Pai não queria que o filho se sentisse mal pelo seu
pecado, mas com o seu gesto de pura compaixão, queria ajudar seu filho a mudar.
Ele sabia que o seu filho havia sentido o impacto do seu erro. Sabia que estava
sentindo um fardo terrível pela culpa que esmagava sua mente e espremia seu
espírito angustiado. Ao invés de julga-lo, condena-lo, repreende-lo e puni-lo,
ele acolheu com compaixão e carinho. Tirou o erro do foco e demonstrou
efusivamente o quão importante o filho era para ele. Ficara feliz por voltar a
se relacionar com seu filho.
Eu percebi com muita clareza, que assim como o pai da
parábola, o Pai nosso, está mais preocupado com reatar, religar, renovar o seu
relacionamento com o pecador do que puni-lo. O perdão foi concedido muito antes
da declaração de arrependimento feito pelo filho.
Deus sonda, esquadrinha os corações. Ele sabe os
pensamentos que estão pipocando em nossas mentes. O Pai nosso tem pensamentos
muito, muito mais elevados ao nosso respeito para ao final, nos dar aquilo que
tanto desejamos. O Pai quer se relacionar com seus filhos e somente é preciso
fazer o que o filho pródigo fez. Ele "mudou de ideia", se levantou de
onde estava e foi ao encontro do pai.
O Arrependimento gera transformação e alcançado o perdão,
cura o pecador, aliviando do seu fardo. Sem o arrependimento o pecador sofre
sozinho a dor e os males impostos pela culpa. Jesus disse que não veio para
julgar o mundo, mas salva-lo.
"As pessoas sábias estão sempre preparadas para
mudar de idéia e de atitude; as tolas, jamais."
Todos nós temos muita semelhança com o filho pródigo.
Achamos que podemos lidar com as nossas "coisas", com a nossa vida
como nos der na telha. Usamos muito mal esta capacidade de escolher e via de
regra, damos com os burros nágua. Isto porém parece fazer parte do
comportamento humano: Errar. Mas Jesus insiste em dizer que o Pai quer se
relacionar com os seus filhos de um outro modo, em um outro nível, e é por isto
que Ele acolhe a todo filho que se arrepende e busca o seu perdão
incondicionalmente.
Percebendo isto, meu coração, minha alma se reveste de
uma sensação de paz e é reconfortada pelo acolhimento generoso do Pai. Posso
viver sem culpa. Posso viver sem medo. Posso ser livre. Posso conviver contente
e satisfeito, celebrando a vida abundante na presença do Pai nosso.
O ensino de Jesus é para que façamos assim uns com os
outros. Ao invés do julgamento, o acolhimento. Porque precisamos uns dos outros
para sermos tratados, estimulados,
erguidos, e curados.
Senhor, é o teu amor que me cura.