Têm notícias que nos pegam tão desprevenidos que levamos
um bom tempo para assimilá-las, não tem?
Agora mesmo você deve ter se lembrado de alguma que te
deixou perplexo e sem ação. Lembrou?
Deixa eu contar uma destas notícias que me entristeceu
muito ao recebê-la: Há poucas semanas atrás, eu estava renovando o
seguro do carro da patroa (risos), e o corretor é amigo comum de um grande
sujeito que conheci há mais de 25 anos.
Enquanto negociávamos o seguro, me lembrei deste amigo em
comum e lhe perguntei sobre ele ao corretor. Falávamos ao telefone. Ele fez uma longa pausa, parece ter respirado fundo e me
perguntou:
"Você não soube?"
E continuou me indagando se eu estava sentado e começou a me contar
que nosso amigo comum havia se metido em muitas dívidas, e que seu negócio
estava à beira da falência total. Não conseguia mais crédito na praça e seus
credores estavam a sua caça. A solução que ele dispunha para honrar suas
dívidas e sair limpo desta situação dramática era a venda da sua casa. Ela era
fruto de uma vida inteira de trabalho e valia muito. Mas sua família, segundo o
corretor que me narrava, não queria abrir mão do padrão alcançado e foi contra
a venda para quitar as dívidas.
Esta situação se agravou a um patamar insustentável para a mente do nosso amigo
comum, a ponto de levá-lo a cometer suicídio. E o corretor detalhou ainda: ele
dirigiu de sua casa até um bairro afastado numa cidade vizinha, estacionou ao
lado da estrada perto de uma ponte, passou para o banco detrás e deu-se um tiro
na cabeça.
Eu o tinha visto há cerca de 3 anos atrás e sempre com o
mesmo jeito alegre e bem-humorado. Ficamos muito tempo sem nos ver e apenas
liguei umas duas ou três vezes neste período. Sempre me foi muito atencioso e
jamais transpareceu em nossas conversas a situação que estava passando.
Há uns meses atrás, passamos em frente sua firma e ela
não estava mais naquele lugar e também já não atendia meus telefonemas e
e-mails. A tragédia já havia acontecido em abril do ano passado.
Quase ao final da minha conversa com o corretor, ele
disse de modo grave: "Pior que pela religião, a gente sabe o que
acontece com quem tira a própria vida! " Ainda atônito com a notícia, eu
só consegui dizer: "Espero sinceramente que a religião esteja
enganada."
Imagino que existe muita gente ao nosso redor, talvez
algumas pessoas bem próximas, que estão passando momentos terríveis. Estão
sendo consumidas por sensações perturbadoras, não encontram apoio amigo, uma
mão estendida, uma palavra serena para espantar os fantasmas da mente, apontar
uma direção, trazer uma notícia esperançosa, dar um abraço acolhedor e se
dispor a dar um tempo de si para ouvir suas aflições.
Provavelmente haja até mesmo gente íntima sua, que esteja
vivendo um período tempestuoso, um turbilhão de pensamentos de morte assaltando
sua mente, e no entanto, nada disto é percebido porque nosso olhar está voltado
para nossos próprios problemas.
É claro que nossos problemas nos têm ocupado maior tempo,
e não se trata de deixá-los em suspenso para se envolver com o do outro. A
gente precisa ir fazendo ambas as coisas ao mesmo tempo em que caminhamos. Tudo
o que estiver ao alcance fazer, primeiro os da sua própria casa, parentela, vizinhança
e assim por adiante ao longo da sua jornada sobre este chão.
Nós podemos ser agentes solucionadores de problemas
sempre que colocarmos os nossos corações, tempo e até mesmo recursos à
disposição da necessidade do nosso próximo. Para quem precisa, tem fome, tem
sede, sofre dores, está pressionado por pavores, oprimido e esmagado pelo
desespero, transtornado por dúvidas de qualquer natureza, um pequeno gesto, uma
aproximação, um sorriso, uma palavra amiga, um ouvido paciente, um prato de
sopa quente, um copo d'água fresca, são bálsamos que tratam e refrigeram uma
alma aflita. Se estiver ao alcance da suas mãos fazer-lhes qualquer bem, não
retenha sua mão de fazer-lhes, tá bom?
Não fique esperando que a necessidade do seu irmão vire
notícia ruim no jornal de amanhã, viu?
Faça o que for possível enquanto é tempo.
Posso não saber onde piso, mas conheço o CAMINHO para
chegar aonde quero; porque caminho NAQUELE que creio e não naquilo que vejo.
(Gerson Palazzo)