sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

FAÇA O QUE FOR POSSÍVEL ENQUANTO É TEMPO!


Têm notícias que nos pegam tão desprevenidos que levamos um bom tempo para assimilá-las, não tem?

Agora mesmo você deve ter se lembrado de alguma que te deixou perplexo e sem ação. Lembrou?

Deixa eu contar uma destas notícias que me entristeceu muito ao recebê-la: Há poucas semanas atrás, eu estava renovando o seguro do carro da patroa (risos), e o corretor é amigo comum de um grande sujeito que conheci há mais de 25 anos. 

Enquanto negociávamos o seguro, me lembrei deste amigo em comum e lhe perguntei sobre ele ao corretor. Falávamos ao telefone. Ele fez uma longa pausa, parece ter respirado fundo e me perguntou:

"Você não soube?"

E continuou me indagando  se eu estava sentado e começou a me contar que nosso amigo comum havia se metido em muitas dívidas, e que seu negócio estava à beira da falência total. Não conseguia mais crédito na praça e seus credores estavam a sua caça. A solução que ele dispunha para honrar suas dívidas e sair limpo desta situação dramática era a venda da sua casa. Ela era fruto de uma vida inteira de trabalho e valia muito. Mas sua família, segundo o corretor que me narrava, não queria abrir mão do padrão alcançado e foi contra a venda para quitar as dívidas.

Esta situação se agravou a um patamar  insustentável para a mente do nosso amigo comum, a ponto de levá-lo a cometer suicídio. E o corretor detalhou ainda: ele dirigiu de sua casa até um bairro afastado numa cidade vizinha, estacionou ao lado da estrada perto de uma ponte, passou para o banco detrás e deu-se um tiro na cabeça.

Eu o tinha visto há cerca de 3 anos atrás e sempre com o mesmo jeito alegre e bem-humorado. Ficamos muito tempo sem nos ver e apenas liguei umas duas ou três vezes neste período. Sempre me foi muito atencioso e jamais transpareceu em nossas conversas a situação que estava passando.

Há uns meses atrás, passamos em frente sua firma e ela não estava mais naquele lugar e também já não atendia meus telefonemas e e-mails. A tragédia já havia acontecido em abril do ano passado.

Quase ao final da minha conversa com o corretor, ele disse de modo grave: "Pior que pela religião, a gente sabe o que acontece com quem tira a própria vida! " Ainda atônito com a notícia, eu só consegui dizer: "Espero sinceramente que a religião esteja enganada."

Imagino que existe muita gente ao nosso redor, talvez algumas pessoas bem próximas, que estão passando momentos terríveis. Estão sendo consumidas por sensações perturbadoras, não encontram apoio amigo, uma mão estendida, uma palavra serena para espantar os fantasmas da mente, apontar uma direção, trazer uma notícia esperançosa, dar um abraço acolhedor e se dispor a dar um tempo de si para ouvir suas aflições.

Provavelmente haja até mesmo gente íntima sua, que esteja vivendo um período tempestuoso, um turbilhão de pensamentos de morte assaltando sua mente, e no entanto, nada disto é percebido porque nosso olhar está voltado para nossos próprios problemas.

É claro que nossos problemas nos têm ocupado maior tempo, e não se trata de deixá-los em suspenso para se envolver com o do outro. A gente precisa ir fazendo ambas as coisas ao mesmo tempo em que caminhamos. Tudo o que estiver ao alcance fazer, primeiro os da sua própria casa, parentela, vizinhança e assim por adiante ao longo da sua jornada sobre este chão.

Nós podemos ser agentes solucionadores de problemas sempre que colocarmos os nossos corações, tempo e até mesmo recursos à disposição da necessidade do nosso próximo. Para quem precisa, tem fome, tem sede, sofre dores, está pressionado por pavores, oprimido e esmagado pelo desespero, transtornado por dúvidas de qualquer natureza, um pequeno gesto, uma aproximação, um sorriso, uma palavra amiga, um ouvido paciente, um prato de sopa quente, um copo d'água fresca, são bálsamos que tratam e refrigeram uma alma aflita. Se estiver ao alcance da suas mãos fazer-lhes qualquer bem, não retenha sua mão de fazer-lhes, tá bom?

Não fique esperando que a necessidade do seu irmão vire notícia ruim no jornal de amanhã, viu?

Faça o que for possível enquanto é tempo.


Posso não saber onde piso, mas conheço o CAMINHO para chegar aonde quero; porque caminho NAQUELE que creio e não naquilo que vejo. (Gerson Palazzo)