domingo, 2 de outubro de 2011

DEVAGAR TAMBÉM SE VAI LONGE


Eu não sei quanto a você, mas eu fico cada dia mais preocupado com essa pressa toda que vemos, sentimos e vivemos. As coisas são feitas com tanta pressão, com tanto estresse que parece que estamos em uma constante, uma permanente competição entre a vida e o tempo. Você consegue perceber isso também, hein?

Apesar dos dias serem iguais ao que sempre foram e terem as mesmas 24 horas para todos nós, parece que para uma grande parcela da humanidade, elas não são suficientes jamais. Muitas coisas para fazer. Agenda lotada de afazeres. Angústia e ansiedade impressos em todos os compromissos. Pressa, muita pressa para ir e vir, sabe-se lá de onde para onde.

Pois é... Mas os dias não se esticam e permanecem como sempre foram - apenas 24 horas. Então, é claro que para cumprir com todos aqueles compromissos e dar conta de todos aqueles afazeres, outras coisas têm que ser prejudicadas. Aos poucos, nessa agitação toda, nessa correria desenfreada pelo fazer e ter, o viver vai ficando sem gosto de viver - sem graça. Coisas importantes, tanto quanto necessárias, mas que não tem a ver diretamente com as metas e objetivos impostos pela lida da vida, vão ficando esquecidas na carreira, na urgência de chegar aos resultados.

Sem que se perceba a tempo, as pessoas se tornam engrenagem da indústria do desespero, da loucura da produtividade a todo e qualquer custo. É um segmento competindo com outro e exercendo uma pressão alucinante sobre as pessoas e essas, por sua vez, sobre as outras em cascata. A qualidade fica devendo porque os detalhes são perdidos no processo por um resultado rápido. Se confunde pressa com eficiência e agilidade com competência. Não importa se haverá reclamações dos clientes sobre o produto, faz-se outro "recall" e pronto. Refazer é mais fácil do que parar e rever o processo.

Isso tudo acontece também com as pessoas, com os relacionamentos, com a familia. Pressa demais tem feito estragos enormes, e em muitos casos, irreversíveis também. Sob uma justificativa de se produzir mais para se ter mais e garantir o futuro, as pessoas se afastam umas das outras e enfraquecem os laços pelos quais justificam tanta pressa de conquistar algo por elas.

Me parece que muita coisa se desperdiça dessa já tão breve existência agindo assim. Minha impressão é a de que está se perdendo a melhor parte da vida que é justamente Vivê-la. Sim, não sabemos quando ela se acabará para cada um de nós, e portanto, é um desperdício achar que podemos vivê-la intensamente depois de ganhar o mundo inteiro. Não há mais que uma vida para ser vivida, experimentada, usufruída e deliciada nas pequenas coisas das 24 horas de um dia a dia por todos os dias. Coisas simples que são vividas com simplicidade e uma boa dose de morosidade também.

Pequenos sabores, odores, texturas, gestos, toques, palavras e olhares que dão prazeres e sentido a vida de um cotidiano sem tanta pressa e estresse.

Penso que as pessoas devem dar uma paradinha ou ao menos uma desacelerada nessa loucura toda, e prestar atenção, avaliar se vale realmente a pena, abrir mão de tantas coisas, de tantos valores por causa da pressa de conseguir. Devagar também se vai ao longe, lembra?

Talvez seja o momento oportuno de resgatar alguns valores perdidos no processo. Nem sempre a vida é tão generosa a ponto de nos permitir um "recall" para consertar detalhes importantes que, na pressa se perdeu.

Talvez não haja mais tempo de restaurar velhas amizades abandonadas por não estarem no seu ritmo.

Pode ser que não se possa rever aquele grande amor que por pressa não se pode cultivar com zelo

Quem sabe aquele filho ou filha que não se deu o tempo e a dedicação necessários para se ter deles a admiração, o respeito e estima.

Meu camarada e minha camaradinha... Pensem e reflitam, até que ponto vale a pena deixar de curtir sua família; de conviver com seus amigos; de ficar com a pessoa amada; de pegar um cineminha com seus filhos ou mesmo de ir pescar no fim de semana.



Sabe, amanhã poderá ser tarde demais, viu!

Se considerarmos que estamos em uma competição e corremos contra O Tempo, é melhor ir devagar e apreciar a paisagem, porque O Tempo vai ganhar de qualquer jeito, tá?

"Pare de correr porque o fim chega mais depressa."